quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Prefeitura de SP planeja reformar 58 prédios desocupados do centro

A Prefeitura da Capital anunciou um projeto ambicioso para tentar ampliar a ocupação do Centro da cidade com moradias. A ideia é comprar prédios abandonados utilizando a dívida do IPTU, reformá-los e vendê-los pelo sistema da Cohab.

A proposta parece ser interessante, pois mantém a arquitetura da região e atrai mais moradores, movimentando potencialmente a economia local fora dos horários de expediente dos escritórios e comércio da região.

Resta saber se essa ideia sairá do papel ou se será mais uma boa ideia esquecida para o Centro...

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Estadão, 01/11/2009

Andares hoje totalmente ociosos vão dar lugar a apartamentos de R$ 40 mil a R$ 170 mil feitos pela Cohab
Bruno Tavares e Rodrigo Brancatelli

Assim como na época em que o Cineasta Hotel funcionava, até quase dez anos atrás, as xícaras, pratos de porcelana e talheres permanecem expostos ali na sala de café. Estão empoeirados, jogados nas mesas de qualquer jeito, sujos - ainda assim, a louça e toda a decoração da década de 50 do imóvel mantêm de certa forma um pouco do charme que já existiu naquele prédio hoje abandonado na Avenida São João. Decadentes e esquecidos, como grande parte do centro de São Paulo, os quartos do Cineasta podem agora também simbolizar uma nova chance para a região.

O hotel é um dos 58 edifícios ociosos escolhidos pela Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab) para ser transformado em moradia popular até 2012. O endereços foram selecionados com base em estudo inédito da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), feito a pedido da própria Cohab, que descobriu pelo menos 208 prédios desocupados no centro paulistano.

Todos os imóveis foram analisados, os donos encontrados e as dívidas procuradas - em média, cada prédio deve R$ 100 mil de IPTU. Os pesquisadores descobriram ainda que 90 prédios têm comércio no térreo ou o estacionamento alugado, enquanto outros 68 edifícios estão completamente vazios. Com o estudo em mãos, a companhia escolheu agora os 58 edifícios que reúnem as condições para serem desapropriados, reformados, revitalizados e vendidos para a população de baixa renda.

"O grande problema desses prédios é a situação jurídica, pois são dezenas de herdeiros que não se entendem há anos e, por isso, os endereços estão ociosos", diz o engenheiro Luiz Ricardo Pereira-Leite, presidente da Cohab. "E também há toda a dificuldade de adaptar esses prédios antigos para a legislação atual. Em alguns casos, é impossível adaptar. Por isso, queremos fazer a coisa direito, com pé e cabeça. Escolhemos os prédios que podem ser reformados por um preço realista e estamos neste momento levantando as plantas para saber como fazer a adequação."

Os prédios terão de 50 a 280 unidades e a ideia é que cada apartamento custe de R$ 40 mil até R$ 170 mil, atraindo todas as faixas salariais dos 900 mil cadastrados na fila da Cohab. O financiamento será feito por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, que dá subsídio de R$ 52 mil para habitações destinadas a famílias que ganham até dez salários mínimos (R$ 4.650).

DIFICULDADES

Os hotéis ociosos poderão ser os primeiros do plano - tratado como o maior projeto da história da companhia -, justamente por serem mais fáceis de serem revitalizados.

A negociação do Cineasta Hotel, por exemplo, já está em curso. Seus quartos de 35 metros quadrados são praticamente unidades prontas - só corredores serão rearranjados e os banheiros, divididos para dar lugar às cozinhas. Enquanto isso, os outros imóveis serão desapropriados conforme os acordos avançarem. "Hoje, se a gente fizer unidades de 20 metros quadrados, teremos público; se fizermos de 100 metros quadrados, também", diz Pereira-Leite. "São duas as perguntas que estamos nos fazendo: como é possível reverter esse panorama do centro de São Paulo e o que é factível? O que for, faremos."

O presidente da Cohab reconhece que há entraves no projeto, como a dificuldade de adaptar prédios antigos às novas regras de acessibilidade paulistanas. Ele prefere não adiantar o valor máximo que a Prefeitura pretende gastar com as reformas. Mas, quando o assunto é o porte do investimento, Pereira-Leite faz uma ponderação: "Reabilitar um prédio custa mais caro no micro, sem sombra de dúvida. Mas se você colocar na conta a infraestrutura, vale a pena."

(clique sobre o mapa para vê-lo em tamanho maior)



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