quinta-feira, 18 de junho de 2009

Por que um Museu de História Natural de São Paulo?

Os Museus de História Natural surgiram na Europa e logo depois nos EUA como um desmembramento dos "museus imperiais", aqueles grandes centros de exposição da pilhagem que os europeus e estadunidenses faziam mundo afora no século XIX e também no XX.

Partindo-se deste princípio, não há coisa mais repulsiva do que um Museu de História Natural, certo?

Mas estes museus souberam se transformar e gradativamente se afastaram do modelo ultrapassado em que eram apenas expositores de estranhezas e bizarrices (modelo praticado também pelos "Museus Imperiais") do planeta.

Com o tempo, estas instituições (de certo, algumas mais do que outras) criaram seus departamentos de pesquisa, passaram a ver e a expor suas coleções não mais como esquisitices para a "civilização" apreender, mas sim como o diferente e o belo.

No século XXI, um Museu de História Natural se propõe a romper as barreiras estabelecidas há tempos entre as disciplinas, podendo se tornar o centro de encontro entre pesquisadores muitas vezes próximos fisicamente (dentro do câmpus da USP), mas distantes quanto ao conhecimento do que o outro produz.


Fachada do prédio principal do Natural History Museum de Londres. Notem a imensa quantidade de moradores e turistas descansando em seus gramados após a visita.

Neste sentido, o Museu de História Natural de São Paulo, da USP, teria algumas importantes funções:
1. Apresentar de forma conjunta e integrada importantes e ricos acervos atualmente pulverizados e mal-tratados pelas pífias verbas governamentais;
2. Possibilitar espaços de exposição grandes para acervos cuja exposição atualmente é restrita;
3. Permitir a discussão ampla entre áreas próximas, mas pouco integradas;
4. Contribuir para a educação e a formação de novos cientistas, abertos às recentes perspectivas e às mais interessantes formas de se entender a interdisciplinariedade e a pluridisciplinariedade.

Um Museu de História Natural é certamente algo que faz falta em uma metrópole como São Paulo. Instrumento potencializador da pesquisa científica, do conhecimento básico para os alunos escolares e, porque não, para o entretenimento de pessoas interessadas somente em ver e rever os diferentes aspectos da natureza.

Este Museu aqui proposto reuniria acervos atualmente dispersos na USP, mas tão defendidos por aguerridos cientistas e pesquisadores. Obviamente é possível se acrescentar ou se retirar alguma instituição desta proposta, mas a princípio seriam reunidos os seguintes:

Museu de Zoologia (MZ) - originado no final do século XIX, guarda uma imensa coleção (8 milhões de exemplares) e possui edifício próprio, da década de 1940, no bairro do Ipiranga. É talvez o museu de mais longa tradição em ensino, pesquisa e exposição que propomos reunir no novo Museu de História Natural. Certamente seria necessário se pensar qual destinação se dar a seu belo edifício - talvez "apenas" os cursos, talvez exposições temporárias?


Detalhes da inusitada arquitetura do Natural History Museum de Londres

Museu de Geociências (MG) - considerado um dos mais importantes do gênero no país, possui coleção com mais de 45.000 peças, dentre as quais os famosos e requisitados fósseis. Apesar dos esforços de seu pessoal, ele fica em uma área aquém da desejável - um andar no prédio do Instituto de Geociências da USP - e é talvez uma das maiores provas do problema de acesso à região da Cidade Universitária. Atualmente consegue expor apenas 10% de sua coleção.

Museu Oceanográfico (MO) - mais um caso de expansão reprimida por falta de espaço e de visitação aquém pelas dificuldades de acesso. O Museu possui uma interessante coleção relacionada aos oceanos que se comunica e complementa o acervo do Museu de Zoologia.

Museu de Anatomia Veterinária (MAV) - pequeno, mas bem cuidado. Assim como os demais, seu acervo se constitui basicamente de doações de docentes, ex-alunos e pós-graduandos. Reúne material bastante interessante que igualmente dialoga e complementa aquele reunido nos museus de Zoologia e Oceanográfico.

Cada uma destas instituições possui sua dinâmica própria, cursos e objetivos específicos, que não necessariamente precisam ser atropelados por uma diretoria centralizadora do novo Museu de História Natural. Penso que seria bastante viável a construção de uma nova instituição marcada pelo diálogo entre estas quatro originárias, mas que também mantenha suas especificidades, cursos próprios e interações com as pesquisas departamentais. Considero que todos tem apenas a ganhar com o surgimento do Museu de História Natural, mas sei também que a polêmica no caso é enorme e está aberta!

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