segunda-feira, 22 de junho de 2009

MASP, História Natural e a Praça dos Museus

Em decorrência do bizarro roubo dos quadros do MASP, em dezembro de 2007, o Estadão publicou reportagem sobre a situação dos museus brasileiros e enfocou especialmente o caso dos Museus de História Natural.

O jornalista Herton Escobar foi bastante feliz ao apresentar a falta desta categoria de museus no Brasil. Em São Paulo, por exemplo, temos o Museu de Zoologia que é excelente, mas não é propriamente um Museu de História Natural, pois não abrange outras áreas. Como montar um museu deste? Que tal reunir os acervos dos fragmentados museus USPianos em uma nova instituição (cuja organização e coordenação museológica seria compartilhada pelos integrantes dos museus nele reunidos) com um novo prédio na região da Luz?

É isso ai, continuo na luta pela construção da Praça dos Museus na região da Luz e conto com o apoio e divulgação de vocês.

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Deteriorado, prédio histórico do Museu Nacional será reformado
O Estado de S. Paulo, 23/12/2007, p. A23

Rachaduras e mato tomaram sede da mais antiga instituição científica do País, que completa 190 anos em 2008

Herton Escobar
O velho clichê de que a beleza interior conta mais do que a exterior está sendo colocado a prova pelo Museu Nacional, no Rio. Alojado desde 1892 no palácio que serviu como primeira residência da família real portuguesa no Brasil, o museu passa há mais de dez anos por um projeto de restauração interna, com a reforma de pisos, tetos e paredes. Quase tudo, porém, escondido dos olhos dos visitantes. Para quem vê o museu de fora pela primeira vez, a impressão é de uma deterioração assustadora, marcada por paredes rachadas, varandas enferrujadas e jardins cobertos de mato e lixo.

Originalmente, a reforma externa deveria ser a etapa final de um grande plano de renovação que prevê a transferência de todos os laboratórios e coleções científicas do museu para outros prédios, construídos especificamente para esse fim. Com a aproximação do bicentenário da chegada da família real ao Brasil, no próximo ano, porém, a ordem dos fatores foi alterada para adiantar a restauração da fachada e apagar a má impressão da aparência externa do casarão.

"A fachada é sempre a última coisa a ser feita num trabalho de restauração, mas percebemos que estava causando uma má impressão e decidimos iniciar o trabalho antes da construção dos novos prédios", disse ao Estado o diretor do museu, Sérgio Alex Azevedo. A meta, segundo ele, é terminar o restauro em meados de 2008, quando o museu completará 190 anos - é a mais antiga instituição científica no País.

Os primeiros andaimes foram erguidos na semana passada. Na quinta-feira, foi inaugurado o primeiro prédio externo que receberá a coleção de botânica do museu - o maior herbário do País, com cerca de 500 mil amostras de plantas.

Em algum momento até o aniversário de 200 anos do museu, em 2018, todas as coleções deverão deixar o palácio, que será aberto inteiramente ao público pela primeira vez. A mudança do acervo é necessária para garantir sua preservação em condições ótimas de temperatura, umidade e segurança, segundo Azevedo. "É uma modernização que não caberia dentro do casarão", explica. O prédio é tombado desde 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Atualmente, faz parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

HISTÓRIA NATURAL

O museu tem o maior acervo de história natural da América Latina, com cerca de 20 milhões de itens, que variam de plantas e sapos da biodiversidade brasileira a múmias do Egito, artesanatos incas e esqueletos de dinossauros sul-americanos.

O que fica exposto ao público é uma parcela ínfima. A maior parte está guardada em armários, repletos de gavetas, que os pesquisadores utilizam como uma biblioteca biológica, geológica e cultural para estudar o passado (e tentar entender o presente) da vida na Terra.

As coleções de fauna e flora são as mais delicadas. As plantas são guardadas secas. Os animais são mantidos em álcool, empalhados ou espetados em alfinetes. Preservá-los é uma luta permanente.

"Temos que ter atenção constante", diz Azevedo. "A tendência do material orgânico é se degradar. Se você piscar o olho, a natureza passa à frente." Em 2005, a infra-estrutura das coleções foi renovada com recursos da extinta Fundação Vitae. "Passamos de uma situação de desespero emergencial para uma de manutenção habitual", conta.

PRESERVAÇÃO

Cada exemplar é um registro histórico da biodiversidade brasileira no tempo e no espaço. É só com base nas coleções que os cientistas são capazes de descrever novas espécies e estudar a diversidade biológica do País - também a que não existe mais.

"Se você quer saber como era a mata atlântica 80 anos atrás, podemos pesquisar porque essa informação está preservada nas coleções", explica o biólogo Mario de Pinna, vice-diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), no Ipiranga. "É um processo constante. Recebemos material diariamente de ambientes que também não existirão daqui dez anos."

"As coleções são absolutamente estratégicas para a ciência e devem ser tratadas como patrimônio insubstituível do País", diz o zoólogo Miguel Trefaut Rodrigues, da USP.

DESCASO CULTURAL

A deterioração do Museu Nacional não é reflexo apenas do tempo, mas também do descaso histórico do País com seu patrimônio natural e cultural, apontam os pesquisadores. "Os museus brasileiros carecem de apoio em tudo: suporte técnico, pessoal qualificado, recursos, instalações físicas, exposições públicas", diz Rodrigues, que já foi diretor do MZUSP. "No Museu Nacional começou a ciência no Brasil, deveria ser um cartão de visitas do País, mas mesmo ele está relegado a segundo plano."

Se a parte científica até que vai bem nos museus brasileiros, a interação com o público ainda deixa muito a desejar. Na prática, as opções para quem não é cientista e quer aprender sobre história natural do País são extremamente limitadas. Quase inexistentes.

Além do Museu Nacional, as únicas instituições de maior porte nessa área são o MZUSP e o Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém. "É vergonhoso que um país como o Brasil, com a maior biodiversidade do mundo, não tenha um único grande museu de história natural", diz Pinna, do MZUSP.

O pesquisador Leandro Salles, do Museu Nacional, também lamenta. Segundo ele, a situação vem melhorando nos últimos cinco anos, com abertura de editais e maior apoio do governo.

Ainda assim, regiões inteiras do País continuam sem um único grande museu de história natural, como o Nordeste, o Centro-Oeste, os Estados do Sul e grande parte da Amazônia. "O museu é a célula básica de interação da ciência com a comunidade", aponta Salles.

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